Dia Mundial do Ambiente

A Nova Economia dos Plásticos

Blog

Publicado a 5 de junho de 2023

O Dia Mundial do Ambiente é um dia de consciencialização global que ocorre anualmente no dia 5 de junho. O objetivo da celebração é aumentar a promoção de ações em defesa do ambiente, como as mudanças climáticas, a poluição do ar e da água, a conservação da biodiversidade, entre outras. A data é uma oportunidade para refletir sobre o impacto que os nossos atos têm nas nossas vidas.

Hoje, em particular, dedicamos o dia aos plásticos que são um material extremamente versátil e útil, mas também são um dos maiores poluentes do planeta. O plástico é um material durável e de baixo custo de produção, o que o torna amplamente utilizado em uma variedade de produtos, desde embalagens de alimentos e bebidas até produtos eletrónicos e automóveis. No entanto, o plástico é um material não-biodegradável e pode levar centenas de anos para se decompor na natureza.

Além disso, a produção de plástico exige a extração de recursos naturais, como petróleo e gás natural, e a emissão de gases de efeito estufa durante o processo de fabricação. Por estes motivos, a reciclagem do plástico é essencial para reduzir o impacto ambiental deste material.

A reciclagem de plástico é um processo que envolve a recolha, triagem, limpeza e processamento do material para gerar novos produtos. Ao reciclar o plástico, reduz-se a quantidade de resíduos que vão para aterros sanitários e a quantidade de recursos naturais que são extraídos para produzir novos produtos. Da mesma forma, é fundamental incentivar as pessoas a adotar um estilo de vida mais sustentável e, como medida de proteção do ambiente, reduzir o consumo e o desperdício de plásticos, que normalmente se acumulam em aterros sanitários ou poluem os nossos oceanos e rios.

Dia Mundial do Ambiente

Se continuarmos a usar plásticos da forma como fazemos atualmente, num curto prazo haverá mais plásticos do que peixes nos oceanos. De acordo com o relatório publicado pela Ellen MacArthur Foundation, em 2016, estima-se que cerca de 8 milhões de toneladas de plástico por ano acabam nos oceanos, causando danos à vida marinha e afetando a saúde humana. Este é um dado alarmante que demonstra a necessidade urgente de inverter o rumo, reduzindo o consumo de plásticos descartáveis e encontrar alternativas mais sustentáveis.

Uma das medidas mais eficazes de reduzir o consumo de plásticos é simplesmente, reutilizar e reciclar os produtos existentes. Isso pode ser feito através, por exemplo, da utilização de sacos reutilizáveis, em vez de sacos plásticas descartáveis, por meio da reciclagem de garrafas plásticas, ou utilizando alternativas de materiais biodegradáveis e compostáveis, como copos de papel e talheres de madeira, bem como o uso de embalagens reutilizáveis.

Retrato atual de Portugal

Recentemente, foi publicado o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos 2030 para Portugal, que procedeu a uma revisão em alta das metas de preparação para a reutilização e reciclagem dos Resíduos Urbanos (RU), apontando à aceleração da transição para uma economia circular, gerando benefícios económicos, sociais e ambientais para os seus Estados-Membros.
Tal como referido nos considerandos da Diretiva de Resíduos “com a progressiva revisão em alta das metas no que respeita à preparação para a reutilização e à reciclagem dos resíduos urbanos, deverá assegurar-se que os materiais constituintes dos resíduos com valor económico são efetivamente preparados para a reutilização ou reciclados, assegurando simultaneamente um elevado nível de proteção da saúde humana e do ambiente, e que os materiais de valor económico contidos nos resíduos são novamente canalizados para a economia europeia, impulsionando assim a Iniciativa Matérias-Primas e a criação de uma economia circular.

A transposição da Diretiva, complementada com a ambição nacional consubstanciada no artigo 27.º do Regime Geral de Gestão de Resíduos (RGGR), estipulou as seguintes metas:

  • A partir da data de entrada em vigor do presente regime, um aumento mínimo global para 50%, em peso, relativamente à preparação para a reutilização e a reciclagem de RU;
  • Até 2025, um aumento mínimo para 55%, em peso, da preparação para a reutilização e da reciclagem de RU, em que, pelo menos, 5% é resultante da preparação para reutilização de têxteis, equipamentos elétricos e eletrónicos, móveis e outros resíduos adequados para efeitos de preparação para reutilização;
  • Até 2030, um aumento mínimo para 60%, em peso, da preparação para a reutilização e da reciclagem de RU, em que, pelo menos, 10% é resultante da preparação para reutilização de têxteis, equipamentos elétricos e eletrónicos, móveis e outros resíduos adequados para efeitos de preparação para reutilização;
  • Até 2035, um aumento mínimo para 65%, em peso, da preparação para a reutilização e da reciclagem de RU, em que, pelo menos, 15% é resultante da preparação para reutilização de têxteis, equipamentos elétricos e eletrónicos, móveis e outros resíduos adequados para efeitos de preparação para reutilização.

Adicionalmente, definiu metas de prevenção de produção de RU, no seu artigo 21.º, nos seguintes termos:

  • Em 2025, reduzir em 5% a quantidade de RU produzidos por habitante face aos valores de 2019;
  • Em 2030, reduzir em 15% a quantidade de RU produzidos por habitante face aos valores de 2019.
Tabela - objeticoa de reciclagem de resíduos de embalagens e de recolha de garrafas de bebidas de plástico de uso único

Também, o regime jurídico da deposição de resíduos em aterro, Diploma Aterros estipulou, que até 2035 a quantidade de RU depositados em aterro deve ser reduzida para um máximo de 10% da quantidade total de RU produzidos, por peso.

Existem, adicionalmente, um conjunto de outros objetivos que contribuem para alcançar as metas definidas no RGGR, nomeadamente as previstas para embalagens e resíduos de embalagens (ERE), e também as metas de recolha seletiva para garrafas de bebidas de plástico de uso único, conforme tabela ao lado.

Contudo a realidade atual de Portugal é bastante distante destas metas ambiciosas, senão vejamos:

  • A quantidade de RU depositados em aterro é superior a 55% da quantidade total de RU produzidos, quando se pretende atingir os 10%. Nos últimos anos este valor tem aumentado e não reduzido como devia ser a tendência expectável;
  • A recolha seletiva de biorresíduos não ultrapassa os 5% quando deveria ser muito mais próximo dos necessários 65% (cerca de 80% do total dos biorresíduos). Ou seja, em 8 anos vamos recolher mais 60% e tudo valorizado, sem refugos nas Centrais de Valorização Orgânica (CVO);
  • A recolha seletiva não ultrapassa os 20% quando temos uma meta de 65% a 80%;
  • Preparação para a reutilização e a reciclagem de RU é inferior a 20% quando temos uma meta de 65% (cerca de 80% do total dos biorresíduos);
  • A produção de RU tem aumentado sistematicamente ao longo dos anos, pelo que se vislumbra difícil a inversão da tendência para uma redução em 15% a quantidade de RU produzidos por habitante face aos valores de 2019.

Historicamente, e desde 1997, data em que foi apresentado o primeiro PERSU, já produzimos o PERSU II (2010), o PERSU 2020, o PERSU 2020+, sempre com metas muito claras e ações para as alcançar, mas ignorando, com a publicação de cada novo Plano, que as metas anteriores nunca foram atingidas.

Embora estejam a ser realizados fortes progressos e vários investimentos ao longo dos anos em algumas áreas, estima-se que as principais metas para 2025 não serão alcançadas. Na reciclagem dos Plásticos, de acordo com a tabela supra, temos uma taxa de reciclagem de 36%, e pretende-se que em 3 anos, até 2025, a mesma atinja uma meta de 50%, ou seja, uma subida de 14%. Este cenário é irrealista, tendo em conta as infraestruturas existentes ou previstas que venham a existir, neste espaço de tempo. E, curiosamente, não é previsto igual esforço para o período subsequente de 5 anos (2025-2030) que prevê uma subida de 5%, para um total de 55%.

A perspetiva de não cumprir todas as metas de 2025 reforça a urgência das empresas acelerarem as ações, principalmente em relação à reutilização, às embalagens flexíveis e à dissociação do crescimento dos negócios do uso de embalagens. As entidades públicas, governos centrais e municipais, precisam tomar medidas imediatas para acelerar o progresso para atingir as metas propostas.

7 R’s

Se até há pouco tempo a aposta na mudança de comportamentos assentava nos 3 R’s -Reduzir, Reutilizar e Reciclar – hoje procuramos uma abordagem mais lata nos nossos hábitos de consumo, com o objetivo de reduzir o consumo em excesso e de evitar o desperdício, diminuindo a nossa pegada ecológica e, assim, proteger o ambiente.  Pelo que, devemos alargar e adotar uma ação que nos permita uma Sustentabilidade com base em 7 pilares, a saber:

  • Repensar. O primeiro passo consiste em repensar os nossos comportamentos em relação ao consumo. Antes de efetuar uma compra temos que nos questionar se realmente precisamos de a fazer ou não. Fazer escolhas conscientes e contidas é, sem dúvida, uma das melhores formas de evitar o consumo excessivo;
  • Recusar. Sermos criteriosos em relação às empresas, produtores e produtos que pretendemos adquirir. Garantir que estes respeitam a natureza, preferencialmente, optar por produtos locais e dar prioridade aos produtos da época, diminuindo a pegada ecológica da distribuição e ajudando a economia local;
  • Reduzir. Ao optar por produtos com maior durabilidade e com embalagens “amigas” do ambiente, consegue reduzir ao máximo o uso de energia, de água e de lixo residual, com destaque para o plástico. A utilização de sacos reutilizáveis, a escolha de produtos a granel em detrimento dos que já estão embalados, e a atenção para as quantidades que vai comprar, procurando não o fazer em excesso e evitar o desperdício, são preocupações que devemos ter presentes;
  • Reparar. Em caso de avaria, devemos verificar se é possível reparar antes de avançar para a compra de um novo produto. Muitas vezes sai mais barato e é, sem dúvida, uma atitude mais ecológica;
  • Reutilizar. Com um pouco de imaginação e de tempo é possível darmos uma nova vida a produtos usados ou velhos. Transformar garrafas e garrafões de plástico em vasos ou numa horta vertical, latas em porta-lápis ou porta pincéis, calças que já estão curtas nuns belos calções, camisolas velhas em panos de limpeza.
  • Reciclar. Se não conseguirmos reutilizar, lembremo-nos de reciclar. Procedermos à separação do plástico, do cartão, do vidro, do óleo e das pilhas e colocá-los no ecoponto respetivo.
  • Reintegrar. Façamos jus ao lema “na natureza nada se perde, tudo se transforma” e apostemos na compostagem de restos de alimentos e outros materiais orgânicos. O resultado obtido é extremamente rico em nutrientes para adubar um jardim ou horta.
Nova Economia dos Plásticos

Para podermos atingir as metas preconizadas por Portugal e pela União Europeia, precisamos de uma Nova Economia dos Plásticos. Precisamos de uma economia circular, em que o plástico nunca se torna resíduo, com profundos benefícios económicos, ambientais e sociais. Para as embalagens de plástico, especificamente, a economia circular deve passar pelas seguintes prioridades:

  • Eliminação de embalagens de plástico problemáticas ou desnecessárias através de redesign, inovação e introdução de novos modelos de entrega, mantendo a sua utilidade;
  • Os modelos de reutilização devem ser prioritários, sempre que a aplicação respeite as normas de segurança e higiene, sobre a necessidade de embalagens descartáveis;
  • Todas as embalagens plásticas são 100% reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis. Isto requer uma combinação da inovação em modelos de negócios, materiais, design de embalagens e tecnologias de reprocessamento, sendo que as embalagens plásticas compostáveis não são uma solução genérica, mas sim uma solução para aplicações específicas e direcionadas.
  • Nenhum plástico deve acabar no ambiente. A deposição em aterro, a incineração e a transformação de resíduos em energia não fazem parte do Estado-alvo da economia circular. As empresas que produzem e/ou vendem embalagens têm uma responsabilidade para que sejam recolhidas e reutilizadas, recicladas ou compostadas em vários ciclos de vida. Os governos são essenciais para a criação de infraestruturas de recolha eficazes, facilitando o estabelecimento de mecanismos de financiamento autossustentáveis conexos e proporcionando um panorama regulamentar e político propício.
  • A utilização de plástico deve ser totalmente dissociada do consumo de recursos finitos. Em primeiro lugar, e acima de tudo, a dissociação deve reduzir a utilização de plástico virgem (através da desmaterialização, reutilização e reciclagem) e, simultaneamente, a utilização de conteúdos reciclados é essencial (sempre que legal e tecnicamente possível) tanto para dissociar das matérias-primas finitas como para estimular a procura de recolha e reciclagem. Com o tempo, os insumos virgens remanescentes (se houver) devem mudar para matérias-primas renováveis, quando comprovado serem benéficos para o ambiente e provirem de fontes gerenciadas de forma responsável. Ao longo do tempo, a produção e a reciclagem de plástico devem ser inteiramente alimentadas por energias renováveis.
  • Todas as embalagens de plástico devem estar isentas de produtos químicos perigosos, garantindo a saúde, segurança e os direitos, de todas as pessoas envolvidas, respeitados.

Para a concretização destas prioridades serão necessários esforços e investimentos significativos, reconhecendo a importância de ter uma perspetiva do ciclo de vida e sistemas completos, visando melhores resultados económicos e ambientais em geral, e, acima de tudo, reconhecendo que é chegado o momento de agir.

Recolha de plástico na praia

Em resumo, este Dia Mundial do Ambiente é uma oportunidade para lembrar a todos, que cada um de nós pode fazer a diferença para o ambiente, adotando práticas mais sustentáveis e responsáveis com os resíduos. A aplicação dos 7 R’s é uma forma eficiente de preservar os recursos naturais e reduzir a poluição, dos quais se destaca a importância de lembrar que a redução do consumo é a melhor forma de prevenir a produção de resíduos.

Rui Neves
Rui Neves

Diretor de Tratamento e Industriais da PreZero Portugal

Licenciado em Gestão de Empresas e com um MBA em Marketing, desempenhou várias funções na área financeira, nomeadamente como Diretor Comercial e Financeiro na empresa Hidurbe, SA. Atualmente, é Diretor do Departamento de Tratamento, Industriais e Valorização da PreZero Portugal.